Outonal

Novembro de 2017

Pennisetum, Echinops, Lilium

Punica granatum

Diospyrus sp.

Diospyrus sp.

Polystichum, Liriope, Geranium, Helleborus, Tiarella, Polygonatum

Com duas taças, descemos ao jardim e aí saboreamos as delicias terrenas, na hora em que a luz baixa e toca aqueles que, como nós, procuram. Podemos dela esperar tanto, e ainda em espanto, enquanto se apaga, guardamos a promessa. Promessa feita quando aqui chegamos, ainda pouco cientes do que nos esperava e se nos abria nas mãos a romã. E deve ter sido num Outono, pois só ele dá a romã ao Homem, que tem primeiro de se iludir de Primavera, depois romper no Estio, para se encontrar perante o ocaso e finalmente saborear o fruto vermelho. Este saboreia-se com os olhos, os mesmos olhos que viram o bem e o mal, que choraram e riram, os mesmos olhos que viram a face de Anteros e com esses mesmos olhos desci eu ao jardim para ver, apenas ver: abrigo cálido, construído do frágil fio vegetal, que é de luz, mas também embuste que nos separa.   

Eu sei que o jardim nos separa. Mas terei sempre a Flor da Helleborbus,  ela cresce à sobra desses dias outros, e juro que uma só me basta para não esquecer. Enquanto ela vinga nos meses das noites frias, ainda que penalizada, não deixa de ser bela, não deixa de me fazer lembrar. 

Calo-me para escutar e oiço um eco surdo que atravessa este vale e vem de nenhum lado.   

Descemos ao jardim, subindo. Sob a cálida tarde de Outono, abrigo espectral, e fomos cada um por si... e éramos tão somente eu. Não existe aqui mais do que as razões para ficar. Olho as folhas, troncos  secos e  tudo o que é expirado, mas que aqui ainda me grita, nesta casa, neste vale: há o nada e um jardim. 

Hoje descubro destroços e neles habita uma serpente que teima em banhar-se ao sol de Novembro, mas desta vez não grito: já esperava a serpente. E entrei para ver. Não era vermelho, mas cinzento. Era um fruto do tempo, aquele que ninguém quer colher, mas que acaba por cair de podre aos nossos pés. 

Espanto-me, são as árvores mais uma vez. Ainda as árvores...sei que as quiseram derrubar, mas estão aí de pé. Escolhem um manto vermelho para a despedida, e repetem-no neste outono, mais uma vez. E pensar que chegamos ao jardim erguendo taças, exaltando, longe de adivinhar o medo. Mas ele nunca andou longe, ameaçando sempre a chama. É sombrio aquele lugar do jardim onde te deixei para morreres, mas cresceste e fizeste-te gavinha, trepaste e tapaste a luz, lançando sobre mim a sombra.  

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