Pelo Bosque em Kew

Erytronium e o templo de Aeolus ao fundo

Scilla e Corydalis / Erytronium "White Beauty" / Anemona blanda / Epimedium

Corydalis solida 

Polygonatum x hybridum

Fritillaria imperialis 

Anemone nemerosa e Uvularia grandiflora

Epimedium grandiflorum / Corydalis solida /Epimedium x younggianum 'Yenomoto'

Epimedium x perralchicum 'Frohnleiten'
                    
Epimedium e Hyacinthoides non-scripta

Dicentera formosa "Bacchanal" e Tiarella cordifolia

Corydalis e Scilla.
O bosque vive no imaginário do Homem, espaço de comunhão com a natureza e de partilha da condição de ser terreno com o reino vegetal. Uma chamada para as raízes da historia humana, de quando o nosso ancestral viveu o paraíso da selva, antes de se ter lançado na estepe africana. É pois bastante básica a necessidade de reclusão na floresta e o que nos chama a ela. E se é a floresta tropical a mais próxima do "paraíso", a mim interessa-me mais a floresta das latitudes setentrionais, que está hoje tão ameaçada quanto as tropicais, sobretudo em países como Portugal onde praticamente já não existe bosque autóctone. 

Mas o que tem a ver um bosque com o Jardim? A aproximação do jardim ao bosque terá razões profundas na sociedade europeia industrializada, que procurou algo tão simples como a recriação daquilo que parecia perder a cada dia: exactamente a possibilidade de conexão com a ancestralidade. E é sobretudo, quando o homem ocidental começa a sofrer as dores de alma da industrialização, que essa necessidade torna-se premente. O jardim passa a recriar cuidadosamente uma interpretação do bosque imaginário e os exemplos deste tipo de jardins começam a surgir, principalmente nos últimos 40 anos. Beth Chatto foi um dos primeiros autores a dedicar-se ao desenho de jardim na sombra e num cenário de bosque, o seu jardim em Colchester tem um excelente exemplo deste tipo de jardins. 

Mas, mais uma vez vamos ficar por Kew, as fotos são do início de Abril até ao domingo de Pascoa, quando visitei o "woodland garden". O jardim de bosque em Kew é bastante idealizado no sentido de mostrar a diversidade vegetal do bosque temperado de diferentes continentes. Neste jardim vamos descobrindo espécies de diferentes continentes, algumas nunca possíveis de encontrar lado a lado na natureza mas, que neste jardim podem, pois o jardineiro tomou nas mãos a tarefa do criador com o intuito de mostrar a flora com a melhor representatividade possível.  

Eis então que temos aqui em Kew, no mesmo jardim, Uvularia grandiflora e Epimedium, plantas com distribuição geográfica bem distinta e que nunca se poderiam encontrar num cenário natural. Membro da família Colchicaceae, a Uvularia é originaria dos Estados Unidos e pertence a uma família habituada à vida nos bosques, que inclui nos seus membros plantas como a Disporum, igualmente bastante usados neste tipo de jardins. O cultivo da Uvularia pode ser bastante difícil em zonas secas no Verão, sobretudo em solos pobres e pouco retentivos de humidade. Se olharmos às origens desta planta, vemos que tem preferência por bosque húmido de florestas de caducifolias. Já a Epimedium tem origem no Mediterrâneo e Extremo Oriente, presente em florestas temperadas ou bosque de montanha. No Japão têm sido usados em jardim desde há séculos, mas a Europa descobriu-os apenas já no século XIX, e nas ultimas décadas conheceram mesmo um crescendo de popularidade, sobretudo aqui no Reino Unido. Os Epimedium com origem no Mediterrâneo  podem aguentar melhor a sombra seca, sendo os resultados para este tipo de situação bastante mais positivos, do que para aqueles com origem nas zonas temperadas do Japão e China, daí que a Epimedium x perralderianum ou a E. alpium possam ser melhores que, por exemplo, E. grandiflorum e seus híbridos. De qualquer forma, em ambos os casos, os Epimedium revelam-se plantas bastante adaptáveis a situações de sombra seca depois de bem estabelecidos. 

E se o cultivo de Uvularia grandiflora em clima como o do Centro e Sul de Portugal possa ser verdadeiramente um desafio, já a Epimedium poderá fazer o jardineiro muito mais feliz: tenho conhecimento de um casos de cultivo bastante encorajador, vindo do jardim do Carlos no Cadaval, onde possivelmente se tenha cultivado este género  pela primeira vez no nosso país.

As folhas da Epimedium, em conjunto com as suas flores peculiares, poderão trazer interesse a áreas apagadas do jardim e elevar a plantação do estrato herbáceo tanto a nível textural como a nível de diversidade florística. 

Criar bosque, principalmente o idealizado, terá sempre que passar por um bom estrato herbáceo. Se as árvores e o estrato arbustivo são fundamentais como definição espacial e temática, quando se aproxima o jardim ao bosque, é crucial pensar na plantação mais fina, o trabalho de estudo para a escolha de vivazes será sempre uma das fases mais importantes. E claro, voltando à ideia de construção de uma certa reclusão, necessária sempre ao efeito bosque, se se tiver a sorte de ter árvores maduras, então que se escolha esse mesmo local para o início de um "jardim-bosque". Se, por outro lado, não existir tal arvoredo e se tiver que começar do zero, o seu retiro no bosque primordial bem pode esperar! Por isso mesmo, comecemos já hoje a plantar a base do bosque: as árvores.    

 O jardim de bosque em Kew Gardens

Comentários

  1. Boa noite James,

    Sou seguidor do seu blogue e como proximamente irei a Londres lembrei-me de o contactar.
    Irei estar uma semana e embora ja tenha uma lista carregada ha sempre espaço para mais um jardim que valha a pena! Dai que se tiver alguma sugestão em Londres ou nas proximidades que considere imperdivel e menos conhecido fico-lhe grato! usei a caixa de comentarios porque nao descobri um endereço de email..se nao for problema podemso trocar emails : o meu gomesjo@gmail.com. Abr, joao gomes

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares