Início da Primavera em Londres

Crocus sp


Galanthus nivalis

Galanthus nivalis

Galanthus nivalis

Galanthus / Helleborus 'Spring Promisse' / Helleborus 'Harvington Red'

Helleborus 'Viv Victoria'
Narcissus cyclamineus

A Primavera está por aí e os dias crescem em Londres. Os jardins ganham aos poucos cor mas, os meus pensamentos estão em Portugal e no meu jardim em particular. Tenho tido noticias, mas faltam as fotos para ajudar a matar saudades...ou melhor, faltam os cheiros, a luz. Falta-me atravessar o portão e tactear os canteiros à procura de cada planta.  Falta-me, porque é meu e é o único jardim que tenho. É difícil imaginar o quanto um pequeno pedaço de terra meridional se pode fazer transportar e ocupar a mente, o pensamento de um homem que vive longe. Um pedaço de terra, que nem sempre foi jardim, e que quase continua a não ser. Antes foi quintal, depois horta e hoje é um jardim suspenso: idealizado, inacabado, acima de tudo uma ideia, que veio a tomar forma e que tomou conta de tanto do que sou. E mesmo eu estando longe, nas terras do Norte, não deixa nunca de estar presente.

O Jardim Suspenso nuca foi tão suspenso como é hoje. As circunstancias ditam o afastamento do seu jardineiro, que se dedica agora a admirar as plantas dos outros. Plantas estranhas aos olhos portugueses, de uma terra alheia, como aquelas a que chamam "snowdrops", Galanthus nivalis para os entendidos, e que é aqui tão comum, quanto o é uma esteva nas serras de Portugal. Plantas estranhas, que relembram ao jardineiro todos os dias, que vive longe e que o jardim já não fica nas traseiras de casa, fica num outro país, à distancia de meses.  

Quando comecei este blog, estava longe de imaginar que um dia o seu nome faria tanto sentido como hoje. É difícil viver um jardim suspenso: os jardins precisam de cuidado diário, a distancia impõem-se e um jardim não vive de memorias. Talvez o nome mais adequado para este blogue fosse hoje "O Jardineiro Ausente", o nome parece assentar que nem uma luva a um jardim que se vai fazendo à distancia e em folhas de papel, desenhado e projectado mil vezes, mas nem por isso mais próximo. 

O jardineiro está longe mas, não só o jardineiro vive desterrado. Por aqui vive há muito mais tempo uma planta do Sul, a Narcissus cyclamineus. Na verdade é-me difícil imagina-la como uma planta do sul, porque toda a vida a considerei uma planta do Norte: é autóctone no Norte de Portugal onde tem duas populações principais , uma no rio Coura e outra no rio Teixeira. É uma planta do norte do Sul e onde vive hoje, acima do paralelo 50, são bastante apreciadas, mais até que no seu próprio país, onde não passam de ilustres desconhecidas. 

Mas, não é por estarem longe que os Narcissus cyclamineus deixam de anunciar o final do Inverno, tal como as Galanthus, também elas plantas emigrantes, oriundas da Europa Central. Estas duas plantas da mesma família estão entre as primeiras a florir, dedicando-se ao anuncio do início da estação vernal. Fazem-no, no entanto de forma diferente, em vez de se vestirem de branco como a neve, a N. cyclamineus veste-se de amarelo como o sol do país do Sul. Ambas tímidas ainda, apontam a sua corola ao chão, sinal de que em terras lusas pode chover tanto nos meses de invernia, quanto nas terras do Norte. 

E foi assim, por acaso, que neste país ilha, amante de tudo quanto é botânico, que se juntaram Galanthus nivalis e Narcisus cyclamineos, plantas de origens geográficas diferentes mas, muitas vezes aparecendo lado a lado nessa coisa muito britânica que são os rock gardens. Num dia de Fevereiro podem-se ver os dois brilhar, fazendo as alegrias dos jardineiros do país do Norte e também do jardineiro ausente, ambos sedentos de cor no final do Inverno. 

Comentários

  1. Sombra longa e serena embora bruxuleante de árvores, como a custosamente aguardo. Há a sul pesares e ansiedades idênticas de menor quilometrágem, em especial peso devido a janela de plantação, que se mostra cada vez mais infíma e curta a novas introducções em período óptimal; um Abril fresco que falta faria a um Jardim em Montejunto, onde abaixo da morujem ainda se podesse pintar canteiros associando nomes e imagens mentais... eu que preso tantos planos, acabo por os desenhar depois mais tarde, depois desse febríl transe de plantação.

    Esta tua narrativa, foi das mais bonitas do blogue, espero que guardes essa vôz que ali transparece.

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  2. Ahhh...saudades,que eu vivi 44 anos,e que quando ca voltava,deixava hm pouco de mim ao regressar,a terras do Uncle Sam ! O seu dia chegara como eu,e então pode dar asas a imaginação,e continuar com esse jardi m suspenso !

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