Passeio de Primavera em Kew.

Templo de Aeolus na área do jardim de bosque
   
Hacquetia epipactis

Chionodoxa sardensiss

Erythronium dens-canis

Tulipa clusiana

Corydalis cheilanthifolia

Scilla mischtschenkoana

Anemone hortensis

Primula vulgaris

Pulsatilla vulgaris

Pulsatilla e Muscari

Muscari aucheri

O jardim das rochas com a casa das alpinas ao fundo

Entrada no jardim da rainha, Narcissus  sp.  e Carpinus betulus

Hepatica transsilvanica

Jardim da rainha e canteiros de plantas medicinais 

Pulmunaria officinalis

Jardim da Rainha

Crocus vernus

Um passeio pelo Jardim Botânico de Kew num dia de Primavera, com a acrescida alegria de um dia de sol em Londres, um daquele momentos em que tudo é perfeito e quase sentimos culpa pelo acesso a tal graça. É claro que alguns vão apontar que o acesso a tanta beleza nunca é livre, há que pagar bilhete mas, devo-vos dizer que neste caso as melhores coisas da vida são mesmo grátis e eu entrei sem pagar.       

O passeio começou como tantas outras vezes no jardim do bosque, um dos meus sítios preferido em Kew, encimado no alto pelo templo de Aeolos, repleto de Narcissus e Crocus mas, já a dar lugar a belos tapetes de Chionodoxa que ficarão por mais umas semanas e mais tarde darão lugar à Anemone nemorosa e depois às famosas bluebells. Mas, não precisamos de colocar os olhos no futuro por agora, pois tantas são as jóias a admirar aqui e agora. Basta abrir os olhos. E eu olho-as sempre com os olhos ávidos da criança na loja de brinquedos.     

A primeira de que vos falo é a Hacquetia epipactis, uma planta da família Apiaceae que tem origens na montanhas da Europa Central, crescendo na orla de bosque muitas vezes acompanhada pela Helleborus. E se pensam que esta é mais uma historia de bolbos, desenganem-se, Hacquetia poderá lembrar um qualquer bolbo de primavera a olhares menos atentos mas, na verdade é uma vivaz de porte herbáceo, sendo a primeira de todas a vivazes a florir. Tal como muitas bolbosas de primavera, as inflorescências são de cor amarela, tornando-se curiosas pelo facto serem ornamentadas por brácteas de cor verde-lima. É uma planta particularmente bonita e é claro que quando me deparo com algo assim a primeira coisa que me vem à cabeça é "Será possível cultivar em Portugal?" Penso que sim, mas é algo exigente. Do que a Hacquetia gosta é de um solo fresco e bastante rico em matéria orgânica, algo nem sempre fácil de conseguir no jardim médio. Embora tenhamos do nosso lado a circunstancia de, tal como a Helleborus, preferir pH no lado alcalino ou neutro, que no meu caso e de muitos que fazem jardinagem no Centro de Portugal, é geralmente o que existe à mão.   

A próxima planta que destaco aqui não deveria ser uma desconhecida para os leitores portugueses, porque a temos na nossa flora mas,a verdade é que a grande maioria nunca lhe pós os olhos em cima. A não ser alguns felizardos que se tenham aventurado pelas serras do Norte do país, em matos de caducifólias, habitats cada vez mais raros, cuja destruição ameaçam as populações ainda existentes da Erythronium dens-canis.  A esta planta o povo chamou "dente de cão" e talvez já tenham sido abundante a pontos de lhe ter sido dado um nome comum tão apropriado, é que este geófito tem realmente um bolbo semelhante a um dente de canídeo. E os "dentes" da Erytronium estão bem cerrados em profundidade na terra e são de pequenas dimensões, desencorajando já aqui qualquer um que tenha tido a ideia tola de procurar por eles. Situação que, aliás, dá uma ideia das preferências deste bolbo, é que mais uma vez gosta de um solo profundo e rico, cheio de nutrientes e que não seca completamente no Verão. A semi-sombra de folhosas será o ideal. Embora se possa obter esta mesma planta com recurso a compra online, talvez seja melhor começar por alguns híbridos mais fáceis e com vigor, alguns deles são populares aqui Reino Unido, é o caso do "Pagoda" que também está representado em Kew Gardens.  


Seguindo o caminho do jardim de bosque vamos dar ao início de uma das zonas para as quais me dirijo sempre com expectativa e que é na verdade o meu jardim preferido em Kew: o jardim das rochas. O "rock garden", que é sempre um dos mais belos na Primavera e por entre Tulipa, Saxifraga apifera, Narcissus papyraceus, Euphorbia, Muscari, uma planta captou a minha atenção logo à entrada, a Corydalis cheilatifolia. Nativa da China como tantas outras Corydalis com valor ornamental, as folhas desta planta lembram um feto do género Cheilantes tal como o nome da espécie indica. Gosta de solos bem drenados, embora deva existir sempre alguma humidade e bastante matéria vegetal, tal como no habitat dos fetos cujas folhas esta planta faz lembrar. As Corydalis são da família das papoilas e lembram em muito a comum Fumaria officinalis.     

Mas, no final de Março a rainha do "rock garden" é na verdade a planta de que vou falar a seguir e na qual tenho focado grande atenção sempre que chegamos a esta altura do ano. Desde a primeira vez que a vi em Munique no belíssimo Alpium, esta planta da família Ranunculaceae não me sai da cabeça. É a Pulsatilla vulgaris, que nada tem de vulgar, muito pelo contrario, é uma das plantas mais belas que conheço e é distinta em tanta coisa que o só se explica o restritivo específico pela facilidade com que se encontra nas montanhas da Europa central. Aceita-se o comum, mas não o vulgar. Desde a cor ao porte, à sua natureza resíliente, ao facto de ser revestida de pelo quando desperta na Primavera, é uma planta distinta e em nada comum.   

Saindo do rock garden, subi em direcção ao jardim das gramíneas, que agora estão a despertar e já aparadas, passo o jardim de gravilha e depois chego a Kew Palace, onde fica o jardim da rainha. O palácio de kew  já foi residência do Rei Jorge IV que teve o reinado assolado por inúmeras maleitas, e que alojou-se aqui em para receber tratamento de plantas que na altura iam chegando a kew vindas de todo o império britânico. Os resultados foram muitas vezes piores que a própria enfermidade, as plantas não eram bem conhecidas, geralmente usadas mais com base na crença do que na ciência. Isto leva-nos à primeira planta que gostava de destacar nesta área: a Pulmunaria officinalis, uma planta do velho mundo, na altura o único remédio para doenças pulmonares. Os pulmões durante séculos foram a grande preocupação dos físicos na Europa, e claro está que ocasiões não faltaram para confirmar que um pulmão doente era tingido por colorações circulares no tecido afectado que lembravam a folha da Pulunaria e assim se começou a usar esta planta como remédio para as doenças relacionadas com este órgão vital. A Pulmunaria officinalis tem uma distribuição restrita em Portugal, prefere solos profundos e frescos, em bosques de florestas de folha caduca, que são aliás o habitat preferido desta espécie no resto da Europa. É amplamente usada em jardins hoje em dia, e o começo do seu uso nos jardins estará precisamente ligado à necessidade do seu uso na medicina. Hoje em dia, vários cultivares melhoraram o seu valor em jardins e diversificaram as formas disponíveis: 'Sissinghurst' e 'White and Blue Ensign' são alguns dos meus híbridos preferidos .   

E se a Pulmunaria tratava os pulmões porque o padrão nas suas folhas remete para o pulmão doente, a utilização da próxima planta tem também nas folhas a razão do seu uso. O recorte das folhas de uma Hepatica lembram realmente o fígado, logo a medicina arcaica da altura a tomou como recurso fundamental para as afecções hepáticas. H. nobilis é a espécie mais cultivada mas, a mim chamou-me à atenção a Hepatica transilvanica, maior e com mais vigor. As flores desta planta lembram as de uma anémona dos bosques, mas de alguma forma ainda mais belas. Hoje em dia quem se dedica a este género tem uma diversidade grande de formas para coleccionar. No Japão, tem sido cultivada desde há séculos e obtiveram-e magníficos cultivares de H. japonica, que continuam a fascinar coleccionadores que se perdem por estas plantas. No jardim aberto alguns cultivares têm melhor performance do que outros, mas será sempre necessário um solo alcalino, rico em matéria orgânica e que não seca totalmente durante a época mais quente do ano.     

O passeio terminou no gazebo do jardim da rainha, que os paisagistas colocaram numa pequena elevação depois dos jardins formais e do qual se pode admirar o Tamisa, que corre lento por detrás. Daqui continuei para a loja de Kew, onde abri cordões à bolsa e comprei uma daquelas planta que chamava muito por mim. Teve que ser. Não paguei entrada mas, o dinheiro acabou por ser gasto, porque ainda não oferecem plantas nos Kew Gardens e depois de tanta beleza só queremos levar uma (pequena) parte para nós.     


Comentários

  1. Resta saber que planta nova foi essa que compraste :P

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  2. Ola. Já tentei a Pulsatilla vulgaris mas morreu do nada, quando parecia estar a correr bem. Mas também adoro a planta e a minha tive de mandar vir pela net, porque aqui não se encontra à venda e é uma pena. Obrigado pelo post!!

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  3. I have been out of the country for a month so it was nice to get back home and visit you and some of the other blogs I have missed. Thanks for your posting. Jack

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