Outono, finalmente
Sedum 'Matrona' |
Os primeiros dias de Outono este ano foram parecidos com os de outros anos: apenas o continuar do Verão prolongado por Outubro adentro, tal como nos viemos a habituar na ultima década. Dias quentes, seca severa na maior parte do país e fogos. Nada de novo. A chuva estava anunciada há dias, mas o calor não deu tréguas. Chegaram noticias do tempo, pelos vistos um furacão chegaria a estas latitudes e os restos da sua actividade tinham entrada iminente no território. Veio acompanhado de algum vento, mas sobretudo de um ar muito quente e abafado, mas nada nos fez desconfiar daquilo que traria realmente. O que assistíamos era só um prolongar da seca, e pelo que os modelos meteorológicos diziam, ela, a chuva, acabaria por chegar. Mas antes, antes de chegar a chuva, este país teria que ser mais uma vez fustigado por graves incêndios, mais graves do que nunca e que haveria de levar dezenas de vidas; muitas casas; os meios de sustento de muita gente; haveria de levar hectares de floresta; matas nacionais; tapadas; o histórico pinhal de Leiria...milhares de animais selvagens e domésticos...e tanta coisa mais. O que assistimos naqueles dias foi doloroso, trágico, e mergulhou o país numa severa dor.
Restava-me o jardim, como se fosse o ultimo jardim desta terra queimada. Como se tudo tivesse sido devastado em volta e restasse apenas este canto de terra fecunda. O Fogo, sempre o fogo sem emenda. O Fogo que este ano andou também às portas do meu jardim, mas não entrou. E eu sei o quão frágil é o jardim mas, a ameaça do fogo nunca me tinha ocorrido por julga-la distante. Mas afinal não o é, pode chegar a qualquer momento. Tudo o que temos é frágil perante a força dos incêndios. Foi por isso que enquanto o país ardia, me refugiei no jardim e apreciei-o o mais que pode.
E a chuva acabou mesmo por chegar, tarde demais para tantos, mas chegou. E chegou durante a noite. Ouvi vivas de alegria, nunca havia sido tão bem-vinda.
No dia seguinte de manhã voltei para o jardim e fotografei. Pairava ainda fumo no ar trazido durante a madrugada e a luz do sol era baça e estranha. Ouviam-se pássaros ao longe. Passei a mão pelas espigas de um Pennisetum ainda com gotas de água. O chão estava molhado e os Sedum tinham tombado com o peso da chuva. Abeirei-me dos novos canteiros e havia uma inesperada flor de Helleborus x hybridus, e também ela pendia com o peso de algumas gotas que a percorriam. Está Certo. Assim fazia sentido, assim o jardim podia continuar. Exausto, mas poderia seguir o caminho.
Cistus x skanbergii, Stipa tenuissima, Miscanthus sinensis |
Echinops, Artemisia, Pennisetum alopecuroide |
Echinacea purpurea, Eupatorium 'Chocolate' |
Sedum, Perovskia, Euphorbia |
Stachys lanata e Sedum telephium |
E as obras e mudanças no jardim continuaram nos dias seguintes aos incêndios, com a convicção de que a única vingança possível contra os fogos, a cultura de fogo e os eucaliptos, seria continuar a plantar. Trabalhar no sentido contrario ao fogo e plantar com força...e o que não se plantar hoje, planta-se amanhã. Árvores, precisamos de mais árvores nos jardins! No meu e no teu e nos jardins de todos. É sob a alçada da sua sombra que o jardim, protegido, pode continuar a enfrentar os desafios de um clima em mudança.
Meti mãos à obra.
Nos canteiros de sombra, que são também o "Jardim de Primavera", o auge é atingindo apenas nos meses de Fevereiro a Abril. Aqui brilham um conjunto de bolbosas e têm que ser plantadas com a devida antecedência, projecta-se assim no Outono para depois ver os primeiros resultados só daqui a uns bons quatro meses. Foi nesta altura também que dei início a um novo projecto: a "Helleborus' Walk", uma área do jardim dedicada apenas a este género que tanto aprecio.
Stachys lanata, Verbascum, Pennisetum, Sedum, Phlomis russeliana |
Primeiro a florir, Helleborus x hybridus 'Harvington Shades of Night' |
Jardim de Primavera e início da "Helleborus' Walk" |
A "Helleborus' Walk" vai percorrer um pequeno carreiro na zona mais sombria e fresca do jardim e que tem pouco destaque durante os meses de Verão. Uma área relativamente pequena, mas que quando as cerejeiras começam a perder a folha e quando a luz volta a entrar por entre os ramos nus, ganha um novo destaque: há todo um conjunto de plantas que vêem isto como a grande oportunidade para se lançarem ao sol e brilharem durante a Primavera.
A maioria destes Helleborus e quase todas as plantas do esquema vieram de Inglaterra. Viajaram dentro de uma mala de porão carregada de plantas. Duas horas de avião e mais umas quantas de autocarro, esperas várias, até que chegaram ao seu destino neste país. Transportaram bem, os Helleborus, ao contrario de muitas outras plantas que foram irremediavelmente perdidas dias depois da conturbada viagem. Mas, muitas delas hoje estão aqui e os Helleborus embora tendo passado o Verão em vasos, estão de perfeita saúde e finalmente foram transplantados. Serão acompanhados por outras vivazes, entre elas a Tiarella 'Spring Symphony', tal como outra planta da família Saxifragaceae, a Heuchera 'Plum Pudding' e algumas violetas de cheiro, como a Viola 'The Czar'ou Viola 'Orchid Pink'. Também uma autóctone, a Primula vulgaris que já existia nesta zona do jardim e que serão acompanhadas por Primula veris; Omphalodes; Geranium phaeum; Brunnera macrophylla; Polygonatum; Thalinctrum adiantifolium; Aquilegia alpina; Liriope muscari e Disporum, entre outros.
Esse sedum e é essa phlomis já estão na minha wish list. Vou invejando também essa primula veris e geranium. De resto, um excelente trabalho que vai por aí como sempre :)
ResponderEliminarAdorei, parabéns eu vou ter de modificar o meu jardim,estou cada vez mais fascinada com esta forma de jardim
ResponderEliminarO fogo andou também bem perto do meu jardim e não é algo bonito de se assistir, tive o coração nas mãos durante umas horas. É um mal do qual este país irá ter muita dificuldade em se livrar. Eu culpo este governo e os anteriores por não terem coragem de contrariar a industria do eucalipto!
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