Visita a Monserrate

Palácio de Monserrate ao fundo

Não é preciso um bom motivo para se voltar a Sintra, mas visitar pela primeira vez um dos grandes jardins de Portugal, foi motivo mais do que suficiente para que no início deste Outono eu tenha rumado mais uma vez àquela vila; ainda por cima acompanhado de amigos que partilham o mesmo gosto por jardins e por Sintra. Um dia perfeito de sol que em nada defraudou as expectativas que tinha sobre este jardim e sobre o palácio de Monserrate: bem pelo contrario, o jardim foi não só uma surpresa pela sua dimensão e variedade florística mas, foi sobretudo um grande "abre olhos " para a forma como algumas plantas exóticas vulgares podem ser usadas em jardins de uma forma mais estimulante.    

Monserrate é um jardim de plantação marcadamente sub-tropical que beneficia do clima super temperado de Sintra e que tem na sua essência um grande apreço pelo exotismo, revelado extensamente quer na escolha de plantas, quer na arquitectura do próprio palácio. 

A historia da influência do exótico nos jardins portugueses é sobejamente conhecida e é de tal forma marcante que se tornou a forma dominante de fazer jardinagem, tendo levado mesmo a um afastamento de um certo tipo de plantas mais naturais nesta região do mundo, em favor de flora exótica e muitas vezes invasiva. A popularidade do exotismo deformou a maneira como vemos os jardins neste país. No meu ver, deveríamos estar a fazer jardins numa corrente diferente, escolhendo plantas mais apropriadas para o nosso clima: autóctones, plantas de clima mediterrâneo e temperado, plantas tão ameaçadas hoje em dia quanto as tropicais. Deveríamos preferir plantas que devolvam à natureza mais do que a extenuam, por terem origem em latitudes de climas mais generosos. 

Ora Monserrate percorre exactamente o caminho contrário e sempre esteve na minha ideia como o expoente máximo do exotismo neste país, por isso nunca me interessou muito enquanto jardim. Isto tudo até o ter visitado há umas semanas atrás, visita essa que agora apresento neste post. 

Fonte do Tritão, virada a Sul do Palácio / Cleome Hassleriana no jardim do México


O jardim do México com Encephalartos em primeiro plano

Plantação no jardim do México


Roseiral e vista para Oeste

Lago no jardim do México


Algo que primeiramente nos salta à vista no parque de Monserrate é a idade de tudo o que nos rodeia: temos vontade de seguir os caminhos, inspeccionar cada recanto para nos inteirarmos de cada espécime maduro. O  valor paisagístico do espaço é inegável e a vegetação sucede-se em espanto: aqui uma belo Crepressus lusitanica, ali um grupo de Arbutus unedo de porte arboreo e uma vasta Magnolia grandiflora; depois uma bela Araucaria bidwillii e um Taxus maduro. Isto tudo antes de, mais alem, nos depararmos com uma Araucaria heterophylla com mais de 40 metros de altura. É impossível não sentirmos um certo compromisso com o espaço e a paisagem concebida e materializada ao longo de décadas.   


Mas, foi o jardim do México que haveria de marcar a minha visita. Esta área do parque reúne dentro do tema do exotismo uma recriação mais naturalista e informal, apresentando plantas tal como seria expectável de serem encontradas em ambiente natural. Embora, muitas das plantas aqui presentes, nunca na vida pudessem coexistir geograficamente. Nem todas vêm propriamente do México e o México surge aqui apenas porque historicamente este vale foi melhorado par albergar plantas vindas sobretudo daquele país, mas que rapidamente foi alargado a outras zonas do globo com igual clima.  

De entre Aloe, Agave, Yucca, Fellicia, Gazania, Cycas e Encephalartos, todos usados de forma interessante e generosa, um género salta à vista no jardim do México: a primorosa Salvia! As salvias são plantas que nunca me interessaram muito, talvez porque eu faça jardinagem num clima bem mais agreste, mas que usadas desta forma abundante, levam-me a olhar para elas de maneira diferente. A diversidade de Salvia presente no jardim é bastante boa e faz-nos ter uma ideia da sua versatilidade enquanto grupo e potencialidades em jardins de dimensões mais modestas, sendo que a isto junta-se o facto das salvias estenderem a sua floração Outono adentro, quando pouca coisa está em flor.  

O jardim vai decorrendo, depois do México temos o roseiral, aproximamo-nos do palácio de Monserrate, edifício primorosamente recuperado e com grande atenção aos materiais da época. Os pátios frontais ao palácio apresentam uma boa plantação, com tentativas de combinações mais elaboradas e com detalhe de algum interesse mas, que o final de época não ajudou a definir melhor a minha opinião sobre os mesmos. Dos terraços do palácio, novamente a atenção vai para as vistas e para o conjunto vegetal com que nos deparamos quando se olha em qualquer direcção. 

Faltou-nos ver muita coisa, incluindo o jardim do Japão e há a ressalva de tanto mais que poderia ser feito: o tão melhor que se podia explorar o desenho do jardim e o refinar da plantação. Apela-se urgentemente à introdução de mais variedade ao nível herbáceo, por exemplo. Exigência e cuidado na escolha das Roseiras: aquando da nossa visita quase não vimos uma única rosa, quando sabemos que uma selecção mais criteriosa resolveria este problema. Mas, mesmo com esta ressalva, o que vimos é estimulante! O exotismo das formas vegetais apresentado desta forma é cativante para qualquer amante da botânica e mesmo eu que tento deliberadamente despromover este tipo de plantas, naturalmente me rendo ao seu uso a este nível e com a intenção que se procurou, e conseguiu, dar ao conjunto. O jardim está cheio de carácter, e mesmo com tudo o que há a melhorar, é já um majestoso jardim, dentro do melhor que temos. 



Obrigado ao João Ferreira pelas fotos. 

Comentários

  1. A Mexican garden - that would work for us too. I have Echevieria ...

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    1. Hi Diana, it is a great garden with lots of inspirational ideas for mediterranean gardens. I specialy like the way they use Salvia in this garden. If you ever come to Portugal you must pay a visit to Monserrat.

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