No Jardim de Primavera

O Spring garden em Março

Março é a Primavera em marcha no jardim, como se uma vez aberta a porta da qual extravasa a vida, ela não pudesse mais ser contida e, inevitavelmente, inundasse de cor todos os canteiros e bordaduras. Março é um mês de plena floração no meu jardim que é agora como que um espelho acelerado do vazio Janeiro: onde havia terra nua, agora despontam as primeiras sementes, onde se adivinhava dormência, agora acenam as inaugurais tulipas, onde o decaimento reinava,  agora desenha-se a vida. O grande Março é assim um mês de começos e não se estranha em saber que já foi o primeiro mês do ano para romanos e outros que se seguiram. E desta vez, a chegada de Março foi de facto marcada pelo recomeço e esperança, porque acompanhada de muita chuva. A natureza beligerante deste mês não se fez esperar e entrou Março tempestuoso e grave, mas repondo as nascentes onde elas já iam secando. Março foi por isso um bom início de Primavera.


Hellebory x hybridus, Crocus tommasianus, Primula acaulis, Narcissus 'Tête-a-tête'

Narcissus 'Dutch Master'

Geranium phaeum 'Sambor' / Puschkinia libanotica / Viola odorata 

Início de floração da Tiarella cordifolia 

Helleborus x hybridus 'Pretty Ellen'

Helleborus 'SP Conny', Lamium 'Beacon Silver', Primula veris, Heuchera, Narcissus 'Hawera'
                                                                             
Leucojum aestivum
       
Canteiros centrais em Março

Lamium, Primula veris, Ranunculus ficaria 'Brazen Hussy', Crocus, Omphalodes verna

Narcissus 'Hawera'

Helleborus' walk: Crocus 'King of Stripes', Primula acaulis, Narcissus, Helleborus 'Shades of Night'

Jardim de Primavera /  Narcissus 'Hawera' / Primula veris

Narcissus 'Hawera'

Helleborus' Walk em Março

Helleborus foetidus

Primula acaulis, Geranium x cantabrigiense, Helleborus hybridus, Polygonatum

Helleborus 'Yellow Lady' / Muscari armenicum / Fritillaria uva-vulpis
                                         
Fritillaria uva-vulpis

Helleborus x hybridus, Cyclamen coum, Narcisus 'Hawera', Heuchera 'Plum Tart'

Helleborus 'SP Conny', Narcissus 'Hawera', Cyclamen, Ranunculus 'Brazen Hussy'

Diagonal do jardim em Março 

Primula vulgaris e Muscaria armenicum

Primula veris

Omphalodes verna

Helleborus 'SP Conny', Primula veris, Lamium maculatum, Cyclmen coum, Narcissus 'Hawera'
                                                                                     
Fritillaria uva-vulpis e Tulipa saxatilis

Tulipa saxatilis
                                                                           
Tulipa turkestanica
                                                                         
Jardim de Primavera no final de Março

Puschkinia libanotica e Geranium macrorrhizum
                                                                                       
Hyacinthoides hispanica

Tiarella cordifolia

Primeiro ano da Helleborus' Walk / Magnolia stellata Hyacinthoides hispanica 

Helleborus' walk: Helleborus x hybridus 'Double Ellen'

Helleborus' walk

Março 2018

Esta é mais uma Primavera, mas não é só mais uma Primavera. Quando a luz do equinócio equaliza dia e noite, luz e trevas, virtude e fraqueza  eu reconheço a gratidão de viver mais esta Primavera e dela colher flores num jardim, que por sinal é o meu. Traz-me a dança das aves regressadas, as que riscam os céus deste sítio a que pertenço. E fui eu que forcei o caminho até esta Primavera. Talvez esta seja a primeira Primavera, tal como Primula é a primeira entre as flores desta estação. Prímula, tão simples e com graça, mas efémera. Então encontro-me mais uma vez com a Primula vulgaris (Syn. P. acaulis) entre as mãos, o símbolo  máximo desta primavera  e de todas as outras antes desta. Aquela flor para a qual, às vezes, tenho a sensação de ter feito um jardim inteiro só para a poder cultivar. Mas, este ano,  vê-se acompanhada de outra prímula, a Primula veris, muito comum nos jardins britânicos. Esta não é contudo a "minha" prímula. É-me estranha: as flores partem de um único pedúnculo, elevando-se uns bons 15 cms ou mais acima da roseta de folhas e, embora as flores se assemelhem muito às da prímula com a qual cresci, as da P. veris são mais pequenas e a corola de um amarelo mais vivo e sem perfume. Ainda que me seja estranha, sempre soube que a haveria de ter a crescer no meu jardim, porque graciosidade não lhe falta. Para tal foi preciso melhorar e muito o solo do spring garden, isto porque realmente, nem todas as prímulas nascem iguais, e esta é bastante mais exigente quanto ao sítio que  lhe dão para viver. Noutras paragens a Primula veris não é a primeira prímula, em geral dá flor varias semanas depois da P. acaulis, mas no meu jardim parecem decidir dividir irmãmente a honra de abrir a estação vernal. Este aparente desfasamento cronológico a Norte é no entanto, contrariado por factos bem promíscuos. A determinada altura a floração de P. veris e P. acaulis devem ter um momento de concertação temporal, pois existe um belo híbrido natural entre estas duas espécie e não raras vezes ocorre em abundância nos campos onde as duas populações se encontram. Este híbrido é a Primula  vulgaris x veris, muitas vezes confundida com a Primula eliator, bastante mais rara e uma planta verdadeiramente especial. 

Os Narcisos em Março continuam a celebrar a Primavera, agora dando já lugar aos 'Hawera' Narcissus.  Quando decidi comprar este bolbo porque sempre foi um dos meus narcisos preferidos, pensei na sua expressão primaveril em grande numero no spring garden, contrastando o seu pálido amarelo com folhas de Heuchera purpura e Helleborus de flor escura. Por isso, comprei em quantidade razoável, mas nunca pensei que fossem tão floríferos. Por não conhecer bem o comportamento da planta, à parte de que no Reino Unido dava flor mais tarde do que a maioria dos híbridos de trombeta longa,  estranhei tanta folha sem flor durante mais de um mês. Foi já próximo do final de Março que do nada, as hastes florais começaram a abrir em grande numero: e que hastes! As suas qualidades são próximas da espécie Nircissus triandrus e isto é dos maiores elogios que lhe posso fazer, porque a N. triandrus é umas das mais belas espécies de narciso que se podem encontrar em Portugal. Mas este 'Hawera' é ainda mais florífero e possuidor de um suave perfume. Há uns dias atrás, regressado ao jardim, deparo-me com um mar de 'Hawera' a fazer tudo aquilo que esperei deles e até muito mais. Valorizado na companhia de outros amarelos suaves como o das prímulas já referidas, mas também amenizando os amarelos mais fortes de outros narcisos que acabam agora a floração, como é o caso dos 'Tête-à-tête'. 


E ali estavam eles 'Hawera' Narcissus, por mim admirado há muito e o primeiro impulso foi colher algumas das hastes e levar para casa, já que havia tantos no jardim neste momento. Mas, como colher a flor incomum? Aquela que não se dá no dias ordinários?  É como colher a Narcissus mais rara... O que esperar da flor que se coloca numa jarra? Que pecado cortar a melhor flor da Primavera, aquela que dura três dias para depois ser já morta... E quantas primaveras mais? Com a Narcissus 'Hawera' aprendi que o simples gesto de por uma flor na jarra não pode ter nada de banal, quantos de nós o podem fazer? Quantos de nós Homens têm um jardim do qual colher seja o que for?  Poderei fazê-lo ainda no futuro mas, quantas vezes mais 'Hawera' nascera no meu jardim?    

Narcissus 'Hawera' e Primula vulgaris, promessa ou não de Primaveras vindouras, fazem-me hoje acreditar no valor do jardim e evocam-me a ideia de um futuro: de um outro recomeçar sentido, onde me possa inebriar por entre as flores de um qualquer Março.



Comentários

  1. Beautiful - have you thought of an Open Garden?

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    1. Thank you Diana, an Open Garden is something I thought about before, and to do that I would have to improve the walking paths and many other things. But, I would say it's something to think about and it's definatly a possibility in the future.

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