O Jardim ao Sol de Abril

Tulipa 'Van Eijk' no Jardim de Primavera

E é Abril que nos bate à porta. Ainda ontem era o Inverno e já a luz de Abril se tece de novo por entre os recantos do jardim. E vai chamando à vida tudo aquilo que era esquecido há muito, é com surpresa que vejo o ressurgir de Aquilegia, Geranium, Thalictrum, Achillea... todas elas acabadas de forjar na doce seiva primaveril que só Abril nos trás e que não se repete em nenhum outro mês. É por isso aquele único verde de ternas qualidades que salta ao olhar mesmo dos mais distraídos e a mim, que atento a todo e qualquer desenvolver no jardim, me atinge como uma vaga de vida. 

Narcissus 'Hawera', Tiarella cordifolia, Heuchera

A "Helleborus' Walk" em Abril

Fritillaria meleagris com Heuchera 'Marmelade'

Tiarella, Helleborus 'Pretty Ellen' e Heuchera 'Plum pudding' e Heuchera 'Marmelade'

Narcissus 'Hawera'

 Helleborus 'White Lady' e Geranium macrorrhizum 'Ingwersen's variety'

Helleborus 'SP Conny', Primula veris, Ranunculus 'Brazen Hussy', Lamium 'Beacon Silver'

Cyclamen coum album / Ranunculus 'Brazen Hussy' / Geranium macrorrhizum 'Bevan's Variety'

Tulipa turkestanica e Tulipa saxatilis

Tulipa 'World's Favorite' (grupo Darwin)
                                                                                   
Tulipa 'Van Eijk' (Grupo Darwin)

Narcissus triandrus 'Thalia', Geranium, Thalictrum, Campanula

Helleborus' walk

Tina de Alpinas

Tulipa saxatilis, Tulipa turkestanica, Tulipa 'Little Beauty', Muscari neglectum

Tulipa saxatilis e Fritillaria uva-lupis

Helleborus' Walk: Narcissus, Heuchera, Viola, Primula e Helleborus

Primula veris
Primula 'Avondale' e Tiarella cordifolia

Festuca, Origanum 'Golden Shine', Salvia officinalis purpurea, Narcissus e Tulipa

Canteiros da frente do Spring garden

Pormenor da plantação no 'Helleborus' Walk'

Helleborus' Walk

Helleborus wallk: Primula acaulis, Geranium cantabrigiense, Viola, Polygonatum

Spring garden: Thalictrum e Geranium

Helleborus' walk: Tiarella, Narcissus 'Hawera', Heuchera, Viola, Primula.

Canteiros da frente no Spring Garden

 Helleborus'walk: Primula veris com Helleborus x hybridus 'Yellow Speckled'

Helleborus'Walk: Geranium 'Lace Time', Primula vulgaris, Geranium marcorrhizum

Início da Helleborus' walk

Secção diagonal  do Spring Garden

Spring Garden: Tulipa saxatillis

Pormenor da plantação na Helleborus'Walk

Tulipa 'Double Price', Helleborus 'Double Ellen', Narcissus 'Thalia', Foeniculum vulgare purpureum

Puschkinia scilloides var. libanotica

Hyacinthoides hispanica

Scilla peruviana / Hyacintoides non-scripta

Primula, Narcissus, Tiarella, Heuchera

Polygonatum odoratum

Cyclamen coum, Heuchera 'Plum Pudim', Narcissus, Helleborus x hybridus, Polygonatum

Tiarella cordifolia

Helleborus' walk

Início de Abril na Helleborus' Walk

Em Abril a época das tulipas atinge o seu derradeiro mês. Pela sua exuberância é-me mais confortável encontra-las a partir do final de Março, quando o primeiro fluxo de cor já varreu o jardim e as grandes pétalas das tulipas aparecem como o seguimento natural de uma narrativa cromática que, em geral, começa de forma bem ténue, para depois se assumir a plena paleta já no mês de Abril. Exactamente quando as minhas tulipas do grupo Darwin decidem inaugurar a parada anual de beleza estival. 

E lá estão elas, durante mais de três semanas, alegrando o jardim de Primavera. Quem as vê exuberantes e cheias de certeza numa manhã de Abril, quase se esquece das suas parentes mais despretensiosas: as tulipas "espécie". São família de sangue, mas vezes sem conta relegadas para personagens secundarias só porque o seu modesto turbante não chega para encher o olho do jardineiro mais histriónico. São tulipas de uma liga diferente, mais modesta talvez, mas nem por isso menos interessante. Bem pelo contrario, as tulipas espécie posso dizer que formam um grupo diverso, mas todas elas detentoras de uma graciosidade única. É por isso que as qualidades dessas tulipas ditas " de espécie", são para mim como que um zénite botânico que consagra poucas outras plantas de entre as que tenho o prazer de cultivar. Porque são estas as que a evolução criou, sabe-se lá por que refinados saltos de selecção por entre possíveis formas de Liliáceas, e por isso mesmo mais perfeitas não podiam ser.
  
É aqui que tenho que exaltar a Tulipa saxatilis, adição recente no jardim. Desafiado pelas que vi em Abril de ano passado em Kew, aceitei o convite e trouxe-as até ao Sul onde se sentem à vontade, pois esta é uma tulipa de paragens meridionais, tal como o chão que vieram habitar aqui no oeste peninsular. E dá-se bem por entre pedras e solo pobre, que é o seu habitat natural na ilha de Creta. Uma outra é a Tulipa turkestanica, há anos que as destinava aos canteiro da frente do spring garden, mas invariavelmente acabavam sempre por me fugir por entre as mãos ávidas de certas jardineiras sénior que, inevitavelmente, tomam de assalto as caixas de bolbos que aparecem nos supermercados a cada início de outono. E  Deus sabe que esta é uma das poucas formas de se conseguir uma ou outra coisa mais especial neste país. E assim falhei durante anos a aquisição da T. turkestanica, até este ano, quando um amigo me fez, finalmente, chegar esta preciosidade nascida nas montanhas da Pérsia. Tal como havia antecipado, acabei mesmo por as plantar entre Origanum e Salvia officinalis, no canteiro mais solarengo do Spring garden.

A Tulipa turkestanica é considerada fácil de cultivar e é-lhe atribuído algum mérito pela facilidade de perenização ao qual se associa a vantagem extra de florir profusamente. Por cada bolbo, o jardineiro obtém várias pequenas flores estreladas, pois no caso da T. turkestanica, em vez de uma unidade floral, temos um racimo de flores várias. Estas vantagens têm convencido cada vez mais os entusiastas de jardins e esta tulipa ganhou popularidade nos últimos anos sobrepondo-se mesmo a vários híbridos holandeses. Mas, é difícil agradar, quando as regras do jogo foram subvertidas e a mão do homem seleccionou artificialmente cores e formas que a natureza provavelmente teria excluído. É por isso que as pequenas estrelas das montanhas não tiveram tarefa fácil para se impor nos jardins ocidentais. O jardineiro comum, que pretende o espectáculo de cor conseguido com as belezas híbridas holandesas, terá pouca disponibilidade para a  simplicidade das tulipas originais e quase sempre se decide pelas cultivares mais vistosas. Tulipas como os já referidos híbridos Darwin; as Rambrandt ou as Triumph, foram seleccionadas para servir os interesses mais mercantis de uma gigante industria de bolbosas com sede na Holanda. E por isso mesmo vestem ricamente e com cores exuberantes, objectivamente prendendo o olhar dos jardineiros de terras onde a modéstia não é um valor. E eu sou o primeiro a curvar-me perante estes mesmos híbridos. No meu jardim, apesar de reconhecer que estas tulipas possam estar manchadas pelo interesse monetário, não deixo de parte a sua índole festiva, cheia de graciosidade humana. Não deixo nunca de lado os meus preciosos híbridos Darwin, como a lindíssima 'World's Favoutit' ou a vibrante 'Van Eijk', ambas possuidoras de cores saturadas, altas e graciosas. Têm ainda a vantagem da sua mistura genética artificial, aparentemente, facilitar a perenização no jardim médio, coisa rara por entre os grandes híbridos holandeses. Isto porque, ao que parece, as Darwin têm hibridação recente com Tulipa fosteriana, manifestamente outra tulipa que facilmente se torna perene. Alem de que o cruzamento entre híbridos Darwin já existentes e outras tulipas botânicas veio introduzir qualidades neste grupo que possivelmente as tornam mais resistentes. 

Sobre se a T. saxatilis se vai tornar perene no meu jardim, ainda é cedo para dizer. Mas, as suas belas corolas abertas ao sol de Abril é uma visão a se guardar por muito tempo, perdoando o efémero e quase compensando o facto de, depois de Abril, o canteiro seco da frente pouco mais terá em flor durante vários meses. Algumas aromáticas povoam a margem deste canteiro, mas no centro, onde estão os bolbos da T. saxatilis, não há nada plantado e não haverá por isso necessidade de rega. Respeito assim a dormência seca que beneficia esta tulipa e mimetiza o seu progenitor Verão helénico. Tanto os híbridos de jardim, como as tulipas "espécie", do que gostam é de um solo leve e drenagem franca, com bastante luz e humidade na altura do crescimento, mas a secura estival deverá ser regra durante o período de dormência. Isto é algo que se deve tentar respeitar, se se quer ver estes bolbos a brilhar, mais uma vez ao sol do proximo Abril. 

http://www.timberpress.com/blog/2015/06/growing-species-tulips/


Abril 2018

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